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denis diderot

Os jesuítas o educaram, mas não conseguiram impedi-lo de tornar-se um crítico da Igreja. “O primeiro passo em direção à filosofia é a incredulidade”, disse Denis Diderot no final de sua vida. Uma incredulidade refinada, poderíamos acrescentar, acompanhada de muita erudição: o philosophe de Langres conhecia a fundo as ciências de sua época, bem como a matemática e as línguas antigas, além de poesia, música, pintura, teatro e filosofia. Diderot era dotado de um saber enciclopédico e, justamente por isso, estava à altura da obra que editou com d’Alembert e que o imortalizou na história do pensamento.

 

Mas antes de ser o "homem prodigioso" de seu século, autor de textos célebres como O sobrinho de Rameau e A religiosa, Diderot viveu em meio a grande pobreza. Tendo se mudado para Paris em 1728, sustentava-se trabalhando como tradutor, e foi somente em 1746, com a publicação dos Pensamentos filosóficos, que passou a ser reconhecido intelectualmente. Vale lembrar que a Encyclopédie, empreendimento editorial que Diderot dirigiu de 1747 a 1772, foi para ele um ganha-pão, e apesar de seus 28 volumes terem se tornado uma espécie de emblema do espírito das Luzes francesas, ela começou como um modesto projeto de tradução da Cyclopaedia de E. Chambers.

 

Alguns dos grandes escritores da época colaboraram na Encyclopédie de Diderot: Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Quesnay, Turgot, o Barão d’Holbach... Este último, em particular, mantinha com Diderot um debate muito profícuo sobre a chamada “doutrina materialista”, ao lado de outros pensadores contemporâneos, como Helvétius e La Mettrie. O materialismo de Diderot é bem conhecido em obras como O sonho de d’Alembert, redigido em 1769. No entanto, não podemos nos esquecer da Carta sobre os cegos, que é bem anterior. Nesse escrito, de 1749, encontramos a primeira exposição de uma cosmologia materialista na qual se problematiza, com rigor, a objetividade do conhecimento empírico e a questão da moral.

 

Diderot mobiliza, na Carta sobre os cegos, os conceitos de matéria e energia com vistas à fundamentação de uma cosmologia e de uma doutrina da moral. É a experiência sensível de um cego que serve de pretexto para a discussão da hipótese segundo a qual a sensibilidade é produto de certos tipos particulares de agrupamento de uma matéria heterogênea, e que a moral, sendo fundada na sensibilidade de cada indivíduo relativamente a essa matéria, não pode ser universal. Os princípios que animaram a hipótese da Carta de 1749 reaparecem em vários escritos posteriores de Diderot, de tal maneira que não seria absurdo afirmarmos que a compreensão do conjunto da obra diderotiana passa, necessariamente, pela compreensão de sua doutrina materialista.

Langres, 05/10/1713 - Paris, 31/07/1784

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